MENTIRA !
Pois é, sr. ministro.
É tudo quanto me ocorre dizer depois de ter ouvido a sua sábia alocução no Jornal da Noite da RTP1 de hoje, 29 de Junho de 2009.
Se não se lembra (afinal é assim mesmo: o que político disse ontem já hoje esqueceu. Não acredita? Vejam o exemplo do seu colega Mário Lino - jamais, jamais, jamais...), como dizia, se não se lembra, eu relembro-o: A sra. jornalista que o entrevistava dizia que a maior parte da população portuguesa vive à justa acima do limiar de pobreza, com menos de 900€/mês por agregado familiar.
O sr. Ministro (a propósito, sabe que a palavra ministro deriva de minister, que significa servir?) respondeu, como se tivesse conhecimento de alguma coisa, que a culpa disso é do baixo nível de formação dos trabalhadores!
Deixe-me relembrá-lo de algo: O seu ministério é, por coincidência, o MINISTÉRIO DO TRABALHO E DA SOLIDARIEDADE SOCIAL!
E, como diz o filósofo, com os números brinca-se, permita-me também que eu, piqueno mexilhão, brinque com os ditos números.
Sabe há quanto tempo estão em curso os RVCC (Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências)? Sabe que esses cursos atribuem equivalências aos 9º e 12º anos de escolaridade?
Sabe quantas pessoas já passaram por esses processos formativos?
Sabe quantas pessoas já passaram por outros cursos de carácter profissionalizante de NÍVEL 2 e NÍVEL 3, que, por acaso, também atribuem equivalência aos 9º e 12º anos respectivamente?
Francamente, eu não sei. Mas o sr. dr. ministro Vieira da Silva deveria saber uma vez que o seu ministério tutela estas iniciativas.
Logo,
MENTIRA !
O sr. ministro não pode dizer alarvidades como essa que disse na televisão.
Sabe, estamos todos fartos de ser tomados por parvos.
Dou-lhe outro exemplo da baixa qualificação de um segmento de trabalhadores portugueses, todos com a mesma profissão.
Os enfermeiros.
Sim, senhor ministro do Trabalho e da Solidariedade Social!
São os únicos contratados do Estado Português, com habilitações profissionais ao nível da licenciatura (pré-Bolonha), que não têm um vencimento compatível com o grau académico que possuem.
É a solidariedade preconizada por Georges Orwell na sua obra "O Triunfo dos Porcos": Todos os animais são iguais, mas uns são mais iguais que outros.
Os enfermeiros são os outros....
E, sem lhe dar outros números, continuarei a brincar com eles.
Quando termina o período do fundo de desemprego, a pessoa deixa a categoria de desempregada e passa para a categoria de inactiva.
Foi descoberta a pólvora!
Eis como se baixam as taxas de desemprego.
Não é dando emprego aos desempregados. É retirá-los do circuito apelidando-os de inactivos. O ideal seria a Solução Final preconizada pelo III Reich mas compreendo que isso daria um pouquinho nas vistas.
Ah, podeis alegar, os desempregados não trabalham porque não querem porque empregos há muitos, tal como chapéus.
Só lhe digo 2 coisas: a primeira é que o desempregado, antes de o ser, era empregado (já pareço a Manelita Moura Guedes, sei lá). Nessa condição, de empregado claro, tinha expectativas, aspirações, objectivos. Fazia a gestão do seu património na medida das suas possibilidades. Algo de extraordinário? Não. Penso que algo de sensato.
Mas, depois de se tornar desempregado (e tramar as estatísticas por um período de tempo, até se tornar inactivo) tem que continuar a cumprir as obrigações que assumiu enquanto empregado, mas com a mixaria dada no fundo de desemprego como orçamento. Famílias endividadas? Pergunto-me porquê? Famílias sobreendividadas? Isso existe? Falência das famílias?
MENTIRA ! Sr. Ministro. Isso é por culpa dos desempregados QUE NÃO QUEREM TRABALHAR!
Há quanto tempo não vai o sr. ministro a um centro de emprego, a uma UNIVA ver as ofertas de emprego que por lá proliferam: "Tapada de Mafra precisa de biólogo experiente, que fale pelo menos 3 línguas. O horário é a tempo inteiro e compreende sábados domingos e feriados. Oferecem-se 550€ como remuneração mensal, a recibo verde". Este é apenas um exemplo que vi há pouco tempo. Devo-lhe realçar, sr. ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, que a licenciatura em Biologia neste nosso país é claramente sinal de baixa qualificação profissional.
Mas veja as restantes ofertas: Em Torres Vedras, Mafra e Ericeira não vi uma única superior a 650€!
Ainda conheço uma outra razão para a baixa qualificação dos trabalhadores portugueses. É a não contratação de pessoal qualificado para postos de trabalho que o requerem e a sua substituição por reformados, pensionistas que fazem na mesma o trabalho mas a custo de 1 Ordenado Mínimo Nacional.
Dou-lhe um pequeno exemplo, sr. ministro do Trabalho.
Quantos licenciados em Turismo trabalham na mais rentável indústria deste país?
Sabe, sr. ministro?
MENTIRA !
Não sabe o senhor, nem ninguém sabe.
Sabe, sr. ministro Vieira da Silva, quantas mulheres sofreram represálias por serem mães? Quantas foram despedidas por serem mães? Quantas fizerem testes de gravidez antes de poderem ser admitidas num emprego? Quantas assinaram um qualquer documento em como se comprometiam a não engravidar enquanto prestassem funções numa qualquer dada empresa?
MENTIRA !
Não sabe o sr. ministro e duvido até que alguém o saiba.
Nem sei como consegue aceitar o título de Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, porque vigilância do trabalho nada se vê e Solidariedade Social nem para as árvores, com a quantidade de papel que V.Exas exigem nem que seja para espirrar!
Mas deixo-vos uma sugestão.
Criem um organismo (sempre serão mais alguns jobs for the boys) cuja finalidade seja a de fiscalizar as REAIS condições de trabalho que se vivem por esse país fora. Apliquem coimas e contraordenações (vão ver a dinheirama que vai entrar nos cofres do estado) aos empregadores prevaricadores (sim, aos patrões, esses mesmos)
Até lhe posso sugerir, sr. ministro Vieira da Silva, um nome para tal organismo:
FITA - Fiscalização Interna do Trabalho Assalariado!
Ponha este organismo rápidamente a funcionar e vai ver a fita que isto vai dar, sr. ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, com a devida vénia!